Pessoas,
a conta gotas, e hoje por causa da insônia, os posts da África
do Sul vão saindo.
O Kambaku é distante, no meio do nada. Do aeroporto de
Houdspruit para lá dá mais de uma hora. Fica na reserva Timbavati, no Kruger
Park e para chegar na boca do hotel percorre-se uma longa estrada de terra. A
rotina do hotel é similar a do Tshukudu, exceto pela caminhada matinal. No
Kambaku, o safári é as 06h30, seguido do café da manhã, por volta das 10h30
rolou uma caminhada pelas redondezas (sem guepardos e sem leões), almoço por
volta de 13h e safári às 15h30.
O local é chique: o quarto, roupas de cama, artefatos da mesa,
uniforme dos funcionários...tudo é cheio de firulas, com cartinhas com nossos
nomes no quarto e excesso de sorrisos todo o tempo. Parecia um comercial de
pasta de dente. O preço acompanha isso tudo. A diária custa o dobro do Tshukudu.
Mas, não vale a pena.
O caso é que eu achei firula demais pra essência de menos. Eles
pecam nuns detalhes inacreditáveis. Não tem wireless nos quartos, apenas na área
da recepção. Também não tem luz nos quartos. Tem tomadas com energia para
carregar celular e máquina, mas não tem lâmpada pra você acender a luz, sabe?
Tem luminárias que iluminam como velas. Seria bem romântico e bonito se o local
não fosse cheio de sapinhos/pererecas por todos os cantos, inclusive nos
quartos. Inclusive no vaso sanitário. Ainda bem que olhei antes de usar. A
coitadinha teve que morrer afogada na descarga. E seria ecológico se eu não
tivesse pagando tanto. Daí, essa banheira aí de cima ficou só de enfeite…..
Outra coisa que não me agradou foi o excesso de sorriso que o
dono mandava pra gente. Só me lembrava político. Entendo o esforço dos
funcionários para fazer com que nos sentíssemos bem, mas tudo soava meio falso.
Quer dizer. Para eles, o importante era sorrir pra mim. Para mim, o importante
era mostrar serviço. E eu achei que o serviço deixou a desejar.
Logo que chegamos, fomos almoçar. Pelo preço e pela cara do
local, esperava O almoço. Sentamos e disseram que podíamos nos servir. Na mesa,
comida mexicana: carne de boi fatiada, guacamole, saladinha, molo de tomate,
tortilhas. Peguei um pouco, jurando que era a entrada. Que nada. Era o almoço.
Não acreditei: tortilhas mexicanas no almoço? Gente, isso é lanchinho de
qualquer cruzeiro fuleiro na costa brasileira! Comparando com o Tshukudu, lá nós
tínhamos entrada servida na mesa, pratos principal tipo buffet, e sobremesa
servida na mesa! E custa a metade do preço.
Ainda durante o almoço, nos perguntaram qual bebidas
gostaríamos de tomar no safári da tarde, durante o por do sol. Na hora, achei
bacana parar no meio da savana pra tomar um vinho. Porém, depois achei uma
bobagem imensa. Especialmente porque deixamos de ver acontecimentos (conto logo
abaixo) por causa dessa paradinha. E fiquei ainda mais puta da vida quando vi os
vinhos que escolhemos pra tomar na savana porque eles ofereceram cobrados na
conta. Como se já não fosse caro o suficiente.
Na janta, a comida já foi bem melhor, mas ainda assim achei que
deixou a desejar. A entrada era linda: uma espécie de tortinha com massa
folheada recheada com queijo brie e geléia de morango, com umas folhas de
manjericão inacreditáveis de tão grandes (foto abaixo). Delícia. Mas, o prato
principal era porco. Porra, porco? Tão comum e eu vim de tão longe…… E não tava
nada demais, era tipo lombo fatiado, sem graça, sem personalidade, sem nada. De
sobremesa, não me lembro.
Enfim. Vamos falar dos safáris.
Duas coisas me deixaram com receio. A primeira delas é que no
Kambaku o safári é feito com dois guias: um que dirige o carro, e outro que vai
lá frente procurando as marcas e pistas dos animais. Se vai uma pessoa fora do
carro, nada de atropelar árvores e entrar com vontade no mato. A segunda é que o
jipe deles era tão novo e tão sem arranhão que o primeiro medo se confirmou.
De fato, eles não gostam muito de aventura no carro não. Andam
na pistinha já formada na savana, ou no asfalto (sim, a área que o Kambaku fica
é tão grande que tem até pista com asfalto. Se não me engano, 11 hotéis exploram
aquela área). Numa hora em que eles achavam que tinha alguma coisa mais pra
dentro do mato, pararam o carro, desceram do carro os dois guias e foram lá a pé
procurar, em vez de ir com o carro e deixar a gente procurar também. Vai
entender.
Graças aos deuses africanos, tivemos momentos espetaculares nos
safáris que salvaram a estadia. No safári da tarde vimos hienas e leopardo. E
hienas e leopardo juntos. E poderíamos ter visto mais, não fosse a bendita
frescura que reina naquele lugar. Eu explico.
Vimos uma matilha de hienas. Umas 9 dormindo.
Logo depois, chegamos no leopardo, que estava em cima da árvore
comendo um impala.Os leopardos sobem nas árvores para que outros bichos,
especialmente as hienas, não roubem sua comida. Curiosidade: os leopardos
conseguem subir a árvore com o bicho morto na boca de até duas vezes o peso
deles. Então: lá em cima estava o leopardo já no fim da refeição, bem nas
costelas do impala.
Como a região da costela é difícil de comer (imagine você
comendo costelas sem usar as mãos), os restos da impala ficavam naquele cai não
cai. E, o que tinha lá embaixo esperando cair? Uma hiena. Esperamos um pouco,
nada aconteceu, fomos embora ver outras coisas.
Daí, um tempo depois, demos com uns carros parados no meio da
pista por causa de uma movimentação anormal de hienas, um vai e vem louco. Algo
estava acontecendo. Possivelmente os restos do impala finalmente caíram da
árvore. E o leopardo, cadê?? Curiosidade e expectativa a mil.
Nosso carro parou lá na área do agito, mas não ficou nem 10
minutos pra gente ver o que ia acontecer. Por que? Porque era hora de procurar
um local seguro pra todo mundo descer do carro e tomar o maldito vinho no meio
da savana. Fala sério....você acha que eu fui lá pra beber ou pra ver vida
selvagem acontecendo agora mesmo com emoção?
No dia seguinte, no safári da manhã, vimos um grupo de uns 11
leões, dentre leoas adultas e filhotes. Foi lindo!
Só aborreci porque na hora da paradinha pra beber algo (é, de
manhã também se para na savana pra tomar um café ou chá, se ainda fosse
cerveja...) avistei lá longe uma girafa com filhote! Que você acha que eu
preferia: chegar perto da girafa com filhote e tirar 12 fotos, ou ficar ali
parada no meio do mato tomando chá? Quando fomos embora, passamos por um
elefante, mas o guia disse que tava longe e que a tarde ia lá. A tarde quem cara
pálida? Eu já vou embora daqui a pouco. Sério, foda. Não achar o bicho, tudo
bem. Eles não garantem nada. Mas, vê o bicho e meio que cagar e andar porque tem
que tomar café, tá na hora de voltar, etc e tal, é foda.
O guia tinha um binóculo massa e emprestava pra gente. Na
verdade, não fazia mais que a obrigação já que não chegava perto da girafa nem
do elefante.
Pra completar, no check-out ainda me vem uma cobrança de uma
taxa de conservação. E eu achando que a falta de luz no quarto numa diária
daquele valor já era uma contribuição mais que justa pra conservação do planeta…
O Vinicius não reclamou tanto quanto eu, apesar de achar que o
custo-benefício não vale a pena.
Enfim, não é que o local seja terrível de ruim, mas achei tudo
muito teatral. Tá vendo essa arma gigante aí no carro na foto acima? Pois então.
No dia que os dois guias desceram do carro e foram a pé procurar algo na mata,
como disse acima, eles não levaram a arma. Daí, se a arma fica no carro e eles
somem mata adentro, a arma serve pra que? Que eu saiba, nenhum dos turistas
foram instruídos a usá-la.
Quando a gente chegou do safári a noite, tinha um funcionário
do hotel muito bem vestido servindo um licorzinho delicioso logo na entrada do
hotel. Legal, bacana. Entretanto, o que estava acontecendo com as hienas a gente nunca vai
saber.
Enfim, foi isso.
Próxima etapa: Garden Route!
Beijocas. Vanessa